A secretária executiva do Cisbaf, Dra. Rosangela Bello, e a
diretora Técnica do Cisbaf, Dra. Márcia Cristina Ribeiro, participaram, no dia
18, do seminário “#MUDARIO: Um outro olhar, uma
nova direção”, que discutiu a
Saúde Pública no Estado. As mesas trataram dos temas financiamento
do Sistema Único de Saúde (SUS), além do planejamento e da regulação de
acesso às ações e serviços da área para garantir um atendimento de qualidade à
população. O evento, que vem se desdobrando em diversos encontros com
assuntos diferentes, é organizado Ministério Público do Estado do Rio de
Janeiro, por meio do Instituto de Educação e Pesquisa (IEP/MPRJ).
O
Procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem, ao abrir o evento sobre
saúde, lembrou que a penúria no atendimento à população é resultado de
gestões pouco eficientes, que erraram muito mais do que acertaram. O PGJ
acrescentou que para evitar a repetição dos problemas, o MPRJ vem adotando uma
linha de atuação mais preventiva, investindo em tecnologia e ferramentas para
acompanhar os gastos do orçamento durante o andamento do exercício. “Há um
significado especial para o Ministério Público do Rio de Janeiro em receber
cada um de vocês aqui. Os senhores saíram de suas casas porque desejam
efetivamente mudar, transformar e fazer mais e melhor pelo nosso Estado”, disse
Gussem, referindo-se às autoridades e demais presentes.
Sob
a coordenação do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de
Saúde (CAO Saúde/MPRJ), foram discutidos o financiamento do SUS e o
planejamento, regionalização e regulação de acesso às ações e serviços da área
para garantir um atendimento de qualidade aos pacientes na rede. A coordenadora
do CAO saúde e promotora de Justiça, Denise Vidal, avalia que somente uma união
de esforços entre especialistas e gestores públicos, como a promovida nesta
sexta-feira, pode fazer com que novas estratégias sejam construídas para
melhorar o atual quadro. “Esses painéis foram programados para discutirmos
aquilo que traz mais dificuldades – recursos financeiros, manutenção de
serviços, metas e planejamento. Não estamos aqui apenas como aqueles que
conduzem procedimentos e ações, estamos no campo dos agentes políticos que
fomentam discussão”, destacou Denise.
Para
o secretário estadual de Saúde, Sérgio de Abreu Gama, apesar das dificuldades
financeiras, a crise financeira traz a oportunidade de rever conceitos e de o
Estado se reestruturar. Segundo ele, é necessário desenvolver mecanismos que
permitam avaliar a aplicação dos recursos. “Nossos hospitais precisam ser
eficientes. Temos uma dificuldade muito grande em avaliar a eficiência, não
temos muitas ferramentas para isso, mas estamos buscando essa estruturação para
que a aplicação dos recursos retorne para a população como serviços”, comentou
Sérgio Gama.
Financiamento e papel do Estado
O
primeiro painel do dia foi sobre financiamento. O mediador da mesa, promotor de
Justiça Daniel Lima Ribeiro, lembrou que o financiamento é elemento central na
discussão em torno de mudanças. Na avaliação do promotor, a área da saúde é a
que tem pago a conta mais alta dentro do cenário de crise. “Isso mostra
uma dimensão muito expressiva da crise institucional. Ao menos desde 2014, o
Rio não aplica o percentual mínimo de 12% na Saúde e, além disso, a aplicação
que é feita de certa forma esconde o valor real, porque o Estado contabiliza
restos a pagar sem disponibilidade de caixa nesse percentual”, avaliou.
Renata
Odete de Azevedo Souza, do Núcleo de Saúde da Coordenadoria de Auditorias
Temáticas e Operacionais da Secretaria Geral de Controle Externo do Tribunal de
Contas do Estado (TCE-RJ), reforçou a crítica sobre a aplicação do percentual
mínimo de 12%, lembrando que este é um valor que flutua de acordo com a
arrecadação e, portanto, não cabe culpar a crise pelo não cumprimento. A
analista do TCE falou sobre os pressupostos do financiamento e da função dos
estados na gestão do sistema de saúde. Renata apresentou gráficos que
demonstram grave piora nos índices de atendimento, em exames oferecidos, entre
outros.
“É
gritante o problema de saúde, e o investimento é completamente inverso da
necessidade que a população enfrenta. Não adianta utilizar o recurso da forma
que o gestor achar melhor e muitas vezes utilizar o sistema como uma moeda
política para se reeleger. É preciso brigar para que os governantes utilizem de
forma correta e temos diversas informações que demonstram os problemas que
precisam ser abordados”, apontou Renata Odete, referindo-se, por exemplo, à
necessidade de investimento em Atenção Básica para evitar gastos maiores em
assistência de média e de alta complexidade.
Diretor
financeiro do Fundo Nacional de Saúde, Antônio Carlos Rosa de Oliveira Junior
discorreu sobre o novo modelo de organização e transferência de recursos
federais para o financiamento de saúde. Antônio Carlos enfatizou que se um dos
entes (estados e municípios) não cumprir suas obrigações, o sistema todo é
comprometido. “É notório que há um problema de planejamento, porque todo
recurso que vai para os estados é pactuado para determinado objeto. No entanto,
por algum motivo, observamos que sempre há recurso não utilizado nas contas.
Mas se há esse recurso, é porque necessariamente alguma pactuação não foi
cumprida”, comentou.
Encerrando
o painel da parte da manhã, Paulo Henrique Rodrigues, do Centro Brasileiro de
Estudos em Saúde (CEBES), voltou a bater na tecla de que o momento de crise
torna crucial a realização de mudanças profundas. Ele abordou a conjuntura em
que o SUS foi concebido e citou as transformações até a situação atual. Paulo
Henrique foi enfático ao apontar que somente uma mudança estrutural poderá
vencer o desafio político para a consolidação do SUS. “Nossos estudos apontam que
os municípios maiores e mais ricos têm 17 vezes mais chances de receberem
recursos de emendas parlamentares do que municípios pobres, sem cobertura,
porque o investimento neles não reflete em votos”, relatou Paulo Henrique,
acrescentando que mudanças estruturais não são possíveis com medidas de mera
aplicação da lei.
Acesso à Saúde
Com
o tema ‘Planejamento, Regionalização e Regulação de Acesso às Ações e Serviços
de Saúde’, a segunda mesa do evento teve mediação da médica Luzia Lamosa, do
Ministério da Saúde. “As políticas de saúde pública têm se traduzido, ao longo
dos tempos, como regulação do acesso, quando deveria ser muito mais do que
isso. No mais, ela tende a buscar adaptações aos problemas, e não as soluções
dos mesmos. Em boa parte porque o SUS deixou de construir sua carreira, de
formar seus profissionais, com funções estatais sendo realizadas por
terceirizados, por exemplo”, criticou a representante federal ao abrir os
debates da tarde.
A
primeira palestrante foi Suzane Gattas de Paula, assessora técnica de
Planejamento da Secretaria de Estado de Saúde do Rio (SES/RJ), que traçou um
quadro do atendimento na rede, formada por nove Regiões de Saúde, com mais de
11 milhões de usuários. Suzane listou desafios para a atual gestão: “Ampliar
acesso de qualidade ao pré-natal, reduzir óbitos maternos, e a sífilis
congênita, situação grave no Rio, que tem 12,4 casos por cada mil nascidos,
índice que é superior ao dobro da média nacional”, descreveu, apontando algumas
soluções. “Elaborar planos de atuação integrados com outros setores, como o de
Orçamento, gestão mais participativa e acompanhamento dos gastos são alguns
caminhos possíveis”.
Na
sequência, coube a Lenir Santos, coordenadora do curso de especialização em
Direito Sanitário do Instituto de Direito Sanitário Aplicado, fazer sua
apresentação. “O SUS é regional desde a sua concepção, exigindo profunda
integração federativa, numa complexa organização, partindo do princípio de que
ninguém faz nada sozinho, da vacina ao transplante”, disse a especialista que
fez um histórico de leis que tratam do SUS e fez sugestões como a definição de
papéis, hierarquias e regras para a partilha de recursos e de suas
deficiências. Lenir defendeu a necessidade de uma legislação que defina as
Regiões de Saúde, com suas competências, limites geográficos e população
usuária.
Por fim, Ligia Bahia, professora da UFRJ e membro da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, reivindicou mudanças nas políticas para o setor. “No Estado do Rio, temos apenas 30% dos leitos de UTI disponíveis para o SUS, num desequilíbrio muito grande de oferta. E vivemos numa realidade em que precisamos nos preocupar com epidemias básicas e causas mais severas, como o câncer. Temos ainda os baleados, as crianças nascidas com microcefalia, enfim, um sistema muito complexo e caro. Por isso, defendo que as políticas de Saúde precisam ser planejadas com outras pastas, como Segurança, Saneamento e Obras”, propôs, resumindo de forma contundente a situação da assistência médica dos brasileiros. “Temos a maioria dos cidadãos atendidos pelo SUS e outra parcela que tem planos de Saúde. Mas boa parte de ambos os grupos, na prática, contam com muito pouco ou nada”, concluiu.
O
quarto e último encontro do “#MUDARIO:
Um outro olhar, uma nova direção” será realizado no dia 15
de junho, das 9h30 às 15h30, no auditório do edifício-sede do MPRJ, com o tema
Educação. Estão previstos três painéis: "O Financiamento da Educação no
Estado do Rio de Janeiro”, “Políticas Públicas de Valorização do Magistério
Estadual” e “Políticas Públicas de Ensino Fundamental e Médio”, com a
participação de especialistas no setor.
Fonte:
MPRJ